17.6.09

Inumanos

Nehoma

- Capitão! - gritou um homem franzino, quase imperceptível em meio a outras pessoas, entre urros de fuzis e pistolas. - capitão! Estamos errmmm... - Mais tiros e um grito de agonia que não arrepiaria uma espinha, a faria em pedaços. -... estamos sofrendo de problemas inesperados.

Poucos instantes depois, a comporta da nave se abre e uma rampa desce. Dela sai um homem alto, imponente, com a barba por fazer, cabelos escuros e olhos atentos. Vestindo um fino traje militar com incontáveis botões com funções das quais ele mesmo provavelmente não se lembra.

É Tíbério Gallore, capitão de Imperatriz e uma lenda entre seus tripulantes. Assim que pisa no terreno árido e inóspito vê os tais problemas inesperados, seus soldados atirando quase em pânico contra coisas que parecem humanas, mas não podem ser. Ele vê e percebe que o confronto era injusto, cinco das coisas contra apenas três de sua tripulação.

Tibério não tinha notado uma que escalara Imperatriz, mas que logo se fez notar com um rugido esganiçado e prontamente saltou contra o capitão que quase ao mesmo tempo olhou para cima, deu um passo para a direita, se abaixou e sentiu o monstro passar a centímetros de suas costas. A coisa assim que tocou o chão tomou novo impulso contra Gallore que já tinha fechado o punho e retraído o braço direito, respondendo com um soco forte na cara cheia de saliva e dentes que avançava contra ele. A criatura estava desacordada.

O Capitão Gallore então olha para sua equipe e leva a mão ao coldre, nesse momento ele se lembra que esqueceu sua pistola sobre o criado mudo e então pragueja enquanto corre na direção do confronto.

- Atirem na cabeça! Atirem na cabeça! É uma ordem! - Ele gritava para seus tripulantes que pareciam não ouvir e acertavam no peito, nas pernas nos braços e se esquivavam de golpes.

Tibério então chega, pega o braço do homem franzino que o chamara e coloca o dedo no gatilho da arma.

Cinco tiros. Cinco quedas.

Ele arranca a arma da mão do homem e a trava. Todos os soldados tremiam feito crianças, ouso dizer que alguns até molharam as calças. Felizes de terem trajes impermeáveis.

- Droga Célio! Eu disse para atirarem na cabeça! - gritou o Capitão disparando perdigotos contra cada um dos envolvidos.

- Qual seu critério para decidir que atirar na cabeça seria o mais correto? - Desce da nave um jovem asiático, de óculos bem desenhados, cabelos milimétricamente arrumados, com um computador de bolso a mão fazendo anotações.

- Porque seria mais rápido e mais econômico. - Tibério faz com a mão um gesto que é prontamente atendido pelos homens, fazendo-os ir até a nave. - Muito conveniente para você só colocar esse traseiro magrelo para fora da nave depois que nós arriscamos os nossos. Explique-me Kaji, por que ainda mantenho você na tripulação?

- Porque sem mim você teria pelo menos 25 mortes entre suas estatísticas pessoais.

O Capitão ficou em silêncio, odiava dizer qualquer coisa como "faz sentido", "tem razão" ou o dolorido "obrigado". Mas Kaji já estava acostumado.

- Como sabia que a cabeça era o ponto mais frágil?

- Porque eles parecem com humanos, e se nos humanos a cabeça é a área mais frágil, neles também deveria ser. - O capitão conclui, entregando a arma para Kaji e se abaixando para analisar os corpos.

- Acho que só para você isso faz algum sentido.

Gallore vira os corpos tombados e vê que são realmente parecidos com humanos, mais altos, mais magros, pálidos e totalmente desprovidos de pelos, além de dentes afiadíssimos e olhos negros, profundos. Ele também notou que sua pele é demasiado elástica, quase uma borracha, o que explicava o fato de poucas balas terem penetrado o corpo. Mas em compensação, suas cabeças tinham pele mais fina, quase uma membrana. Eram aberrações.

- Alguma idéia do que essas coisas sejam? - Tibério olha para cima na direção de Kaji.

- Nenhuma. Mas posso dizer que são uma descoberta científica memorável. - Kaji então recebe uma mensagem em seu comunicador.

Tibério se levanta, suspira, tenta encaixar o raciocínio em seu devido lugar.

- Então que conste nos autos. - chuta a cabeça de uma das criaturas mortas. - estou extremamente satisfeito por colaborar com o avanço da ciência.

O Capitão vai na direção dos soldados e verifica se eles sedaram o alienígena desmaiado. E junto com eles o leva para dentro de Imperatriz.

****

- O que descobrimos? - Era Tibério, cansado de esperar 5 horas pelos exames de Kaji, foi até ele perguntar o que tinha conseguido.

- Primeiro que o sinal nesse fim de mundo é uma porcaria. Segundo, estamos de frente para a primeira mutação genética humana não monitorada que se tem notícia. - entrega uma prancheta para Tibério. - Agora tem outra façanha científica para colocar nos autos como sendo descoberta sua. - Sorri com ironia.

- Calma aí, quer dizer que essa coisa é um humano?

- Capitão Gallore! Doutor Matsumoto! - os interrompe um homem negro, alto e muito forte batendo continência e demonstrando respeito sincero pelos dois superiores dentro daquela sala.

- À vontade, tenente.

- A presença do senhor está sendo requisitada na ponte de comando para as permissões de liberação dos veículos de pesquisa.

Tibério e Kaji então se dirigem para a ponte de comando, lá chegando, torna-se notável a variedade étnica da tripulação. Isso se deve ao fato de Imperatriz ser uma das naves pertencentes à Força de Ordem Humana. Um exército militar criado em uma tentativa de união das supra-regiões a fim de tratar dos assuntos humanos sem arbritariedades, como os povos alienígenas fazem. Mas isso não deu muito certo já que as poucas naves participantes são apenas designadas para missões diplomáticas de pouca importância e de exploração de futuras colônias. Bom, a missão sofreu sérias reviravoltas nesse caso.

- Reporte as unidades envolvidas na missão de reconhecimento, Primeiro-Tenente Kaneda.

- Usaremos nossos três veículos de exploração com três soldados em cada, Capitão. - Respondeu o homem baixo com traços e severidade dignos de um samurai.

- Quer dizer que cabem mais dois? - Perguntou Tibério, que foi prontamente fitado com curiosidade por Kaji.

- Depois de suas descobertas, creio que vai querer ir também.

- Acertou, mas por que você também vai?

- Porque vamos finalmente ter alguma ação.

- Capitão! - Um homem, na casa dos 25, loiro e mirrado com um comunicador avançado na cabeça levanta a mão e se vira para Gallore e Matsumoto. Consegue a atenção de ambos. - Acabamos de receber um comunicado criptografado do General Berguer, ele ordena que deixemos de lado a missão atual e que partamos imediatamente para os limites de Alpha Centauri. Nossa missão é investigar a região na qual o corpo tecnorgânico foi descoberto.

Tibério parou por um instante, olhou a tripulação, suspirou e respondeu:

- Qual a cadência de transmissão, Oficial Lahm?

- Cerca de oito horas terrestres, Capitão.

- Responda com recusa, nossa missão é muito mais importante, e foi dada por alguém superior a ele. - o Capitão Gallore percebe temor nos olhos de Kaji.

- Tenente Kaneda, ordene que as equipes de exploração se posicionem, partiremos em quinze minutos.

Kaneda responde com uma continência e vai até um microfone comunicar as ordens a todos da nave.

- O que está olhando Dr. Matsumoto? Sei que você odeia a idéia de não poder estudar essas suas amadas aberrações técnobiológicas. Mas veja pelo lado bom, te deixo até dar um nome para nossas monstruosidades. Além do quê, não vou precisar te agüentar falando sobre elas como um fanático evolucionista, penso vendo você que deve ter sido um porre conviver com Darwin. – Tibério vai em direção a saída. – Agora vá arrumar seu equipamento de estudos. Temos trabalho a fazer.

4 comentários:

Takren disse...

Oh-ho-ho!
Bem-vindo, começou bem.
:)

Fabio Ciccone disse...

O conceito de humanos evoluindo paralelamente é bem interessante... talvez explore no futuro :)

André Lasak disse...

Demorei mas li. Aprovadíssimo! Estou ansioso pela continuação, caro novo-membro! :D

Seja bem-vindo!

ABRAÇÃO!

Vitor disse...

Gente, a gente precisa atualizar, hein...

Muito bem vindo!