21.11.06

Polícia e Ladrão

Polico kaj Ŝtelisto

- Sabe... estou com saudades do meu irmão. Faz tempo que ele não escreve.

Danielle e Laetitia conversavam descontraídas durante o jantar. Nestes últimos três anos, as duas desenvolveram uma relação intensa, quase como mãe e filha. Os cuidados e o carinho que Laetitia dedicava a Danielle era o mais próximo de um amor materno que a mais jovem já havia experimentado. “Laetitia significa ‘alegria’ em uma língua muito antiga”, disse ao se apresentar anos antes, e a cada dia Danelle concordava com o sentido do nome da amiga.

- Ah, Danielle, não fica assim não... você sabe que ele é ocupado, trabalhando na cosmonáutica e tal, sempre tendo que ir para planetas distantes, resolver problemas, salvar o sistema solar... essas coisas – Laetitia sorriu para Danielle, que retribuiu – garanto que entrará em contato assim que der.

- Eu sei... mas de repente senti saudades. Ele sempre quis ser cosmonauta, desde criança. Conhecer o universo, descobrir planetas. No dia que ele pegou a primeira nave foi o dia que eu...

- É... mas deixa isso para lá, OK? Vamos, é hora de ir para a cama, você teve um dia exaustivo. E nada de ficar lembrando dessas coisas antes de dormir.

***

Danielle e seu irmão brincando de Polícia e Ladrão. Ele sempre quer ser a polícia. Ele tem só oito anos mas Danielle sempre deixa. Ele tem até um uniforme de capitão espacial com um monte de medalhas. Eles correm para lá e para cá, o irmão tentando pegar Danielle, mas a Danielle é maior e mais rápida e ele nunca consegue pegar ela, só quando a Danielle deixa, e ela sempre deixa, e os dois sempre ficam felizes.

- JANTAAAR!

É a mamãe. Ela fez peixe com limão, o prato que a Danielle mais gosta. Mas o irmão não gosta de peixe, mesmo que faça bem para a memória. Eles correram para a casa, e Danielle chegou primeiro. Mas chegando lá, a luz estava apagada.

Seu irmão entrou depois, iluminando parcamente o local com a luz de fora, mas já era um adulto. O rosto grave, o olhar triste de quem conhece quase todo espaço conhecido mas sente saudade de casa. Caminhou lentamente em direção à irmã, e então um estrondo.

Danielle tinha medo, mas seu irmão se virou para protegê-la. Da porta destruída, vinha uma criatura. Não, não era uma criatura, era uma máquina. Quer dizer, uma criatura. Ou uma máquina. Uma criatura-máquina, enorme, guinchando. O irmão de Danielle atacou, e em um piscar de olhos foi feito em pedaços pela criatura/máquina.

***

- Não! Não! Não!

Danielle acordou gritando, logo Laetitia chegou.

- Acalme-se, Danielle, foi só um sonho.

- Não, não, preciso avisá-lo, preciso avisá-lo agora!

- Calma, menina, foi um sonho, você sabe que foi só um sonho. Aqui, beba isso.

Mas Danielle não bebeu. Preferiu pegar o copo e estilhaçá-lo na cabeça de Laetitia, deixando a enfermeira inconsciente.

- O hangar! Preciso chegar ao hangar!

As coisas finalmente ficaram claras para Danielle. Fazia tempo que os sonhos haviam sumido, mas os três anos na instituição não foram em vão. Agora ela tinha certeza que não estava louca.

***

Anos-luz dali, em seus aposentos na Oportunidade, o capitão Gael Wülf se lembrou de sua infância, de quando brincava de Polícia e Ladrão com a irmã, e deixou cair uma lágrima de seu rosto.

Ele sempre era polícia.

2 comentários:

Takren disse...

e a trama se complica. Tan tan taaaan.

ficou bem legal isso.

André Lasak disse...

Curti a valer! :D

ABRAÇÃO!!!!